segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Jantar e Montar... é Só Começar?

Não. Leva tempo montar e finalizar um longa, e, dependendo do tipo de pequeno filme, também.
Um professor que tive na ELCV, o roteirista Julio Pessoa, nos deu a dica de sempre manter vários projetos (filmes... roteiros... argumentos... edital...) em diferentes estágios de realização. Para com isso adquirir um dinamismo para com todas as partes do processo, e nunca ficar atolado em um só (que está editando, por exemplo).



Percebi isso na prática nestes últimos tempos. Devido à dificuldade em se obter meios e tempo para a montagem do "Jantar", outras idéias e projetos vão sendo tocados. Creio que ainda não comentei aqui a edição propriamente dita do filme, que vem sendo feita pelo Leo (foi som direto) e assistida por mim, esporadicamente desde Setembro, devido à nossa falta de tempo. Temos nossos trampos paralelos e aos fins-de-semana ou feriados nos reunimos para cautelosamente ir dando forma a ele. Posso dizer que tem sido feito com muita empolgação, cuidado e inspiração, sem nunca se colocar a carroça à frente dos bois.



Aos produtores, atores, assistentes e tudo mais, peço que aguardem pacientemente, pois a demora é por uma boa causa. Aos poucos descubro que, além do fato de termos muito material gravado e do filme em si ser de narrativa e detalhes de edição um tanto complexos (e ter defeitos gritantes a serem corrigidos), além disso temos o fator do próprio "bolo" que estamos assando ter o seu tempo de ficar pronto. Nesse meio tempo (um ano, agora), entre viagens longas que fiz, mudança de casa (montei meu ateliê), contratempos e meu trabalho com criação, ilustração e foto/vídeo, venho correndo atrás de softwares de conversão, ilhas de edição, apoio, informações técnicas sobre a câmera, sobre edição (fóruns, google, e até o orkut são ótimas ferramentas pra isso), enfim... começamos só agora, pra valer. E deve demorar o tempo que tiver de ser. Prefiro assim, também, porque querer finalizar uma obra com pressa, em boa coisa não resulta. Bastante estudo se faz necessário.


Tenho lido muitos estudos de Eisenstein e outros cineastas, e também observado a montagem em tudo o que assisto, de cinema até comerciais e jogo de futebol, videoclipes até novela. Há muito por trás disso, não vou me estender aqui, mas prefiro indicar que os interessados pesquisem na net e em livros. Jogar um plano atrás do outro nunca foi o mesmo que "montar" ou "editar". Já vi gente "editando" assim, finalizando 3 curtas em duas semanas, e com certeza não resultou em algo bom. Nosso esforço pra realizar o filme foi imenso, usamos bons equipamentos e praticamente deu tudo certo. Agora ainda falta o dobro de esforço: não pôr tudo a perder na montagem, e torná-la parte da obra.
Dar significado a esse quebra-cabeça de planos e cenas e luzes e sombras e falas e gestos e movimentos é complexo, e se tem um cara que confio para tal, esse cara é o Leo. Ele tem a pegada do tema, das influências que a história tem, e temos quase total sincronia química e de "gosto" para que flua bem. Já vi coisas muito bacanas mesmo, mas basicamente deixo nas mãos dele, e dificilmente o convencerei de que ele está errado quando discordarmos em algum ponto. Por vezes fico pintando enquanto ele monta o material, conversando sobre outros assuntos, falando sobre outros filmes ou alguma besteira. Tem sido ótimo. E estou aprendendo muito com este processo.


A origem dos estudos em cinema de Sergei Eisenstein remonta ao Kabuki (teatro japonês do século XVII), para entender melhor e pirar neste tema interessantíssimo, primeiro indico A Forma do Fime e O Sentido do Filme, de Sergei, e outros textos também podem ser encontrados na net. Filmes dele como O Encouraçado de Potenkin, Outubro ou Ivan O Terrível podem ser baixados por aí também (o "Encouraçado" estava para os soviéticos como "Cidadão Kane" estava para os EUA, mais ou menos... porém as realizações russas são tão ou mais importantes que as americanas para quem fez, faz ou fará cinema na História). É muito importante saber por que tal corte foi dado em determinado frame, e não no outro. Criar ritmo... ter um estilo... uma unidade artística na montagem.


Basicamente era isso.
Ah, alguns atores deste curta ou de fora dele vêm me cobrando um encontro pra botarmos idéias na mesa prum novo trabalho, e digo que tenho várias sendo aprimoradas, de modo que logo, logo vamos nos encontrar pra estudar a possibilidade de realizar algumas delas.
Estou também editando 2 documentários-road-movie que são fruto das minhas viagens pela América do Sul, e espero conclui-los até meio de Dezembro.
E em meios de Dezembro... parto novamente em outro mochilão, desta vez focando mais na América Central, onde pretendo coletar material (filmado e fotografado) para outros projetos. Quem tiver idéias novas para tais filmes de viagem, pode me contactar, dar sugestões ou propor parcerias.

Abrazos!

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