terça-feira, 21 de outubro de 2008

Saudações e nossa trajetória até aqui




Olá meus caros, aqui quem fala é o Will, roteirista e diretor do filme curta-metragem de ficção "O Jantar de Sábado à Noite", que está sendo produzido em São Paulo há alguns meses.

O curta é uma produção independente, porém ela conta com alguns apoiadores, como a ELCV (Escola Livre de Cinema e Vídeo) de Santo André, onde alguns de meus colegas de equipe e eu nos formamos, e outras entidades que vou detalhando aos poucos.

"Meses?!", você se pergunta. Sim, meses. Tem sido (e nunca tive dúvidas de que seria, mesmo) uma produção grande e extremamente trabalhosa para um curta-metragem, devido ao número de locações, atores, detalhes de direção de arte e o tipo de ação que nele ocorre. Vou tentar resumir aqui, em partes, essa nossa trajetória que começou no início de 2008.

Lá por volta de Março, ou Abril, eu estava num grande impasse a respeito de qual seria o meu futuro no segundo semestre deste ano. Estava começando a trabalhar por conta própria com meu próprio estúdio (de design, ilustração e vídeo), e terminava o curso de Cinema e Vídeo que citei, da prefeitura de Santo André. Sobre a Escola: http://www.santoandre.sp.gov.br/secretaria/bn_conteudo.asp?cod=3513&categ=sec_cultura

Ãlém disso, estava prestando a EICTV, Escola Internacional de Cinema de Cuba, e cheguei à seleção final, junto com outros 9 candidatos brasileiros. Disputando uma vaga de direção (ao todo são 6 vagas para o nosso país), se passasse correria atrás de uma bolsa e iria para Cuba no segundo semestre de 2008. Se não passasse, ficaria tocando meus projetos por aqui.

Tínhamos um curta a ser rodado em meados de Julho, que seria como um trabalho de conclusão do curso de Cinema. Deveríamos eleger um roteiro de um dos integrantes do grupo e realizá-lo, em dois fins-de-semana, mais ou menos, com uma verba oferecida pela Escola. Mandamos nossas propostas. Eu já vinha tendo a idéia de uma história há um tempo, mas que exigia um certo empenho extra e que poderia, futuramente, quem sabe, gerar um longa. Era a história de um jantar, dado por um casal de italianos do Bixiga, para um grupo de amigos, e no meio deste jantar ocorria uma briga pavorosa entre dois primos, por causa de ciúmes (a mulher, do casal, era uma atriz tentando deslanchar na carreira, e acabava seduzida pelos dotes de "cantor-galã-boa-pinta" do primo italiano que ia à festa). Até então não tinha muita coisa definida, mas era algo regado a muito Scorsese, Cassavetes (cujo cinema "de atores", de improviso e de câmera na mão vínhamos estudando nas aulas, e isso devo ao grande Danilo Solferini, que nos mostrou e abriu a cabeça com Fassbinder e outros), Copolla, Marco Ferri, Leone, ou seja, influências que eu e meus colegas sempre tivemos, ali na nossa "gangue". Um fato engraçado é nosso "apelido", o grupo é conhecido como "Réti Péqui", uma paródia do refinado Rat Pak de Frank Sinatra e Cia. nos anos 50. Enfim. A idéia era deixar a coisa fluir na narrativa, em função dos atores. Uma câmera que os acompanhasse e improvisasse, como eles, em longos planos-seqüência ao melhor estilo de "Festim Diabólico", do Hitchcock, com muito jazz e rock italiano rolando no vinil. A coisa toda virava um caos. Depois acabei adicionando uma outra história à narrativa, que era uma outra idéia que eu tinha para um curta, onde um personagem ficava preso como refém em um boteco, num assalto (isso foi inspirado em fatos reais, ocorreu algo parecido com meu pai anos atrás, e o fato nunca saiu de minha cabeça, de modo que comecei, ao longo dos anos, a imaginar como isso seria mostrado em um filme. aliás, sempre imaginei a ação se passando em um bar específico, bar onde hoje estamos gravando esta parte da história). Este personagem (e a ação do assalto no bar) foi ganhando projeção, e acabou se equiparando (e depois sobrepujando) e ação do jantar italiano. Fundi as duas histórias: o personagem refém virou um enfermeiro atrapalhado e de bom coração, que sai do plantão num sábado à noite e precisa chegar a tempo no jantar do casal italiano (seus melhores amigos), e acaba preso no assalto, no boteco. Ele resolve a situação quase como "herói", e chega no jantar justamente a tempo de separar a briga dos primos e percebemos o quão banal se tornou a violência e o quão frios podemos nos tornar em relação a ela, que existe lá fora e existe aqui, dentro de casa, ao nosso lado.

Esbocei a idéia em forma de argumento, meio em forma de conto, meio em forma de decupagem. Estávamos atrasados em relação ao resto da turma, então corremos e (provavelmente porque era um roteiro complexo e que com certeza excederia os 15 minutos padrão dos curta-metragens), escolhemos o roteiro do Rodrigo Perillo, colega mais novo do grupo e dono de uma incrível imaginação, criatividade e inventário referencial de bom gosto. Aliás, muitas coisas na história dele eram do mesmo universo da minha: era um almoço familiar de Domingo, onde a coisa também virava um caos, e com requintes também do cinema italiano (muito western "spaguetti"), do Cinema Novo (São Paulo SA), seriados de TV de comédia, Scorsese, etc. Então mãos à obra, começamos a correr pois tínhamos que entregar até Julho o filme, e era, também, um roteiro complexo, elenco grande, muitos diálogos...

Fiquei sendo Diretor de Fotografia no curta do Perillo (cujo nome de trabalho era "Requiém para um Vômito!"), e também câmera. Tenho verdadeira paixão por esta área, e dedicava minha atenção, nos últimos tempos, mais à aula de Fotografia. Fazer a câmera também me satisfaz muito, é algo que carrego desde meus 14 anos, quando ganhei minha velha JVC caseirona, que levava a tudo quanto era canto.

Fizemos o curta, em meados de Julho, e fomos terminar lá pra agosto. Atrasamos todo o processo, tínhamos só uma pessoa na produção, enfim, foi trabalho pra caramba, pra todos. Era uma equipe sensacional de se trabalhar: um grupo de amigos com referências e pegadas parecidas, que se divertia, ia junto nas festas, coisa e tal. E com bastante seriedade também, uma dosagem equilibrada de "conservadora e porra louca" misturada. O resultado deve ter ficado muito bacana (está em fase de montagem), apesar de eu não conseguir me perdoar por minhas possíveis falhas com a câmera. Quanto à luz, trabalhar junto com o Wesley, meu assistente, foi ótimo, sem contar o "gigante" Tião, homem da elétrica dedicado e prestativo.

Por volta de Maio eu tinha ido a uma festa com o rodrigo Perillo, era uma festa sobre o Maio de 68, onde exibiriam "Os Sonhadores" do Bertolluci. Discutíamos idéias para o "Requiem...". Quem eu encontrei na festa foi o Daniel Bilenky, ex-aluno da nossa Escola, a Teresa,sua namorada, e o Victor, um grande amigo deles e que já tinha atuado em alguns curtas do nosso pessoal, o "Réti Péki". Na verdade, o Daniel tinha feito a Fotografia em um curta meu em 2007, e chamara a Teresa e o Victor para serem seus assistentes de luz. Os dois (que não eram alunos da Escola) foram super dedicados e achei aquele "time de luz" super eficiente e de boa vontade. A luz é uma das coisas que o pessoal elogia quando assiste curta experimental, "Século XIX", que você pode conferir aqui:


Eu e o Daniel mantínhamos contato, mesmo ele tendo saído da Escola. Eu fazia umas ilustrações pro portal da Hilda Hilst, que ele coordena (http://www.hildahilst.com.br/). Ele e a Teresa tinham ido a Cuba fazer um pequeno curso na EICTV, e falávamos sobre isso e a possibilidade de eu ir pra lá cursar o regular, de 3 anos. Nesta festa expus a eles a idéia que eu estava desenvolvendo pro curta do Jantar, que já estava virando um roteiro mais palpável e que eu pretendia fazer lá pra Agosto, Setembro. Chamei ele pra Fotografia, a Teresa seria Som (depois se tornou minha assistente, aliás, boa escolha!), e ao Victor eu expliquei como seria o personagem principal, o enfermeiro Maurício. Comecei a desenvolver o personagem meio que pra ele, imaginando-o já para o Victor, que já tinha feito um cara atrapalhadão em outro filme nosso.
Ele tinha essa pegada cômica e era um cara dedicado, além de ter trabalhado na Cruz Vermelha um tempo, e seus relatos do que ele passava nesse trampo me deixou cheio de idéias para o personagem, que eu já confundia com o ator. Eles tiveram uma boa recepção da idéia e começamos a ficar empolgados, começando a traçar planos.


Continua no próximo post...

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