terça-feira, 21 de outubro de 2008

Trajetória d'O Jantar de Sábado à Noite (parte 2)

(Continuação do post anterior)

Descobri depois que não passei na Escola de Cuba, por muito pouco, e então comecei a me dedicar a projetos que tinha, como este do curta-metragem, pelo qual estava me apaixonando aos poucos. Comecei a contatar alguns atores, além do Victor. Mandava a prévia do roteiro, alguns já estavam tão empolgados quanto eu com a história. Mas as datas de realização foram se arrastando, aí comecei a perceber que era mesmo uma "grande" produção pra um filme de 15 ou 20 minutos, então eu, Daniel e Teresa passamos a nos reunir pra definir prazos, datas e orçamentos. Enquanto isso eu finalizava o roteiro, e ia passando a eles (a Teresa como assistente de direção), que entendem mais de roteiro do que eu (eu não sou um bom roteirista), então eles "limavam", riscavam, criticavame eu reescrevia.


Passei a reunir a equipe aos poucos: o Wesley na assistência de fotografia, o Leo (dos "Réti Péki") no som, a Maria do Carmo na Arte (depois chamei a Renata Nogueira pra fazer dupla com ela, e a Rachel pra maquiagem), a Samarah (namorada do Leo) na produção e o Tião na elétrica. Com 4 pessoas na produção (Samarah, Daniel, Teresa e eu), dividimos funções e fomos agilizando as coisas aos poucos. Eu me reunia com cada ator do elenco em particular, para uma conversa informal, passando diversas referências a eles, de atores e personagens de filmes a HQ's e desenhos animados. O enfermeiro Maurício (ou Mau), por exemplo, seria uma caótica mistura de Jerry Lewis com Buster Keaton com Peter Parker com Mel Gibson em comédias, com Bill Murray, com Droopy, o cachorro dos desenhos, com Jack Lemon em Se Meu Apartamento Falasse, com o protagonista de After Hours, do Martin Scorsese, com algumas coisas do Woody Allen em Bananas, enfim... não faltavam referências. Num encontro desses o Victor me contou uma história que me fez pensar: "Puxa... ele é o personagem, ninguém tira o papel dele, nem o Pedro Cardoso". Ele contou que uma vez estava com uma garota com quem saía, e estavam saindo dum fast food, de carro, e tendo uma discussão. Brigavam por algo besta, corriqueiro, ele ao volante, e no meio disso, na calçada do fast food, um homem começou a ter um ataque epiléptico, a alguns metros do carro. Gritando com a garota, estressado, teve o ímpeto de ignorar totalmente a briga, sair do carro e correr pra socorrer o homem. Ele tinha conhecimento pra isso, tinha trabalhado em hospital. Salva a situação, a briga ficou por isso mesmo, passou pra outro plano (creio que pra ele e também pra garota). Essa experiência provavelmente os tornou (e tornaria a todos, eu acho) um pouco mais flexíveis em relação a problemas corriqueiros, coisas pequenas com as quais nos preocupamos demais às vezes, em nossa rotina. É um conflito quase idêntico ao que contrui no roteiro para o Maurício, o enfermeiro. Isso vinha muito de encontro a uma das idéias principais para o projeto: partir dos atores. Focar na atuação, no método Stanislavskiano, o realismo que eu queria e que partia da premissa de que muito dos personagens já existia nos atores que eu chamava para o filme.
Eu estava lendo e estudando o Carlos Gerbase, Stanislavski, Lee Strasberg (fundados do Actor's Studio), e bebendo muito da fonte do Marlon Brando, Elia Kazan, Robert De Niro, etc. Desde o início eu queria seguir esta linha. Quem daria o tom seria o elenco, eu queria dar espaço para eles construirem personagens autênticos, parecidos com eles próprios, e que eles pudessem "recriar" suas falas e comportamento em cena, de acordo com o que sentissem. A presença de um preparador de atores era crucial, desde o início. Eu não tinha experiência (como a maioria dos alunos ali) em lidar intensamente com atores para um filme. Essa era a oportunidade de adquirir isto. Chamamos um amigo do Daniel e do Victor, que já tinha dirigido o Victor antes no teatro: Will Damas, meu xará, um cara veterano nota dez, que vem fazendo um trabalho sensacional com o elenco nos ensaios.
Aos poucos fechei o elenco, com indicações de amigos, conhecidos, ex-colegas de faculdade (um deles, o Vinicius, que faz o papel do Luan, o fanfarrão da festa, estudou Publicidade comigo anos atrás). Uma atriz, a Alaissa, que faz o papel de Dolores, a melhor amiga da Laena (dona do apê do jantar), encontrei por acaso no Festival de Curtas de São Paulo. Ela já tinha participado com o Victor (são grandes amigos também) de um curtinha nosso da Escola. Entreguei o roteiro que, "por acaso", tinha na mochila, e ela topou antes de lê-lo. Um ator (Juliano Mazzuchini) e uma atriz (Aze Diniz) peguei "emprestado do curta do Perillo. Outro, o Lucas (que faz o primo galã), veio do "Século XIX". A Adriani Richter, que faz a Paty (patricinha e vizinha do casal italiano), conheci muito por acaso, na Internet. Ela (que é Miss Poços de Caldas e está entrando no mundo do teatro, com duas peças em cartaz atualmente) foi muito generosa dando atenção a um "estranho" que chega do nada falando sobre atuar em um curta. A maioria deles é do teatro, e eu realmente não sei o que seria do cinema, dos nossos curtas e deste projeto se não fosse o teatro. E vice-versa, porque o cinema é uma das maiores "referências" para eles, também. Uma arte ajuda a outra e se transforma com as outras também. Isso inclui o teatro, a música, a dança, etc.
Do segmento do assalto, também chamei o Marco Stocco, um cara 100% também lá de Santo André, que sempre nos ajudou muito em nossos exercícios "Cassavetianos", e o Djalma, que faz o bandido Quedinha, que já era um camarada meu, ligado ao Danilo, colega da ELCV. Ele chamou o outro bandido, o Jefferson, depois.
Voltando à história: tentamos reduzir ao máximo o roteiro, com ajuda de alguns professores, como o Julio Pessoa (co-roteirista de A Casa de Alice). Tinha que caber em 15 minutos, ou um pouco mais. Creio que a versão finalque temos agora conseguiu chegar nesta meta. E isso é extremamente importante, pois desde o início temos como meta divulgar o máximo possível o filme, de modo que ele deve ter um molde "padrão" de tamanho, pra poder se encaixar em alguma mostra ou festival e ser visto pelas pessoas, que é o que eu considero mais importante.
Começamos a correr atrás de patrocínios, apoiadores, parceiros, alimentação, figurinos, cenários, e venho trabalhando uma cuidadosa decupagem dos planos, que ainda precisa ser revisada e modificada, repensada, sempre. Temos conseguido resultados bons, tendo fechado parceria para equipamentos com grandes locadoras, por exemplo. Esta é uma fase crucial. Não temos tempo a perder e todos os dias temos que dar uns dez passos em direção à gravação, que está muito próxima. Esta semana agora estamos fazendo os últimos ensaios com o elenco, e resolvendo questões trabalhosas de Arte, mapas de luz, ordens do dia, etc.




É agora que o bicho pega. Não há tempo a perder. Este fim de semana fizemos a festa de arrecadação para o filme, no Espaço Zé Presidente, em Pinheiros, um bar alternativo com quem fechamos uma parceria. Apesar do dia pouco propício a baladas (Domingo), foi divertido e, mais do que arrecadar uma grande verba, conseguimos gerar uma divulgação bem proveitosa para o projeto. Muitas pessoas estão sabendo dele devido à festa, não só amigos e conhecidos, mas também pessoas que freqüentam a casa.
Em breve posto mais novidades, tentarei fazer isso todos os dias a partir de agora. Aguardamos comentários, sugestões, críticas, etc. dos leitores do blog.

abraços!

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